quinta-feira, 3 de junho de 2010

Eleições no Brasil e Copa no Mundo

*Por Marcos Monteiro


As expectativas criadas pelas eleições e seleção brasileiras são igualmente tediosas. O projeto “Dunga” pode nos levar à vitória, mas nos promete que qualquer jogo será monotonamente difícil, valendo isso para a Espanha e para a Coréia do Sul, estilo de jogo nosso que iguala todos os adversários. Caso o Brasil seja campeão, Dunga devolve o drible a Maradona (aquele drible que tirou o Brasil da copa de 1990), confirmando (por enquanto) que equipes de futebol vistoso, como o Santos e o Barcelona, por exemplo, não têm vida longa no futebol atual.

As eleições deste ano nos provocam um sentimento meio “dunga”. Depois de seguidas disputas entre concepções contrastantes que despertavam esperanças e paixões, percebe-se que os contrastes desapareceram, havendo apenas matizes e nuances a serem escolhidas, garantia de que o projeto do novo foi adiado de novo. Durante os próximos oito anos o mesmismo continuará, porque já sabemos que a redução do mandato presidencial para quatro anos significou na prática sua ampliação. Afinal, o que é bom para os Estados Unidos tem de ser bom para o Brasil, ainda.

Gerenciado por um presidente de tradição socialista, o Brasil afirmou-se como capitalista quase exemplar, seguindo a cartilha de forma ortodoxa, aplicando medidas paliativas populares, síntese feliz de ênfases de governos anteriores, tornando inócuo e incompreensível o discurso oposicionista de direita. Nem mesmo isso é novidade. A história já havia demonstrado que socialistas tradicionais são excelentes gestores do capitalismo, o que somente ajuda a adiar o sonho de um sistema alternativo de governo.

No meio de tudo isso, todo tipo de aliança, que tritura partidos e a concepção de “partido”, do mesmo modo que a convocação de Dunga triturou o conceito de “seleção”. Os novos partidos, especialmente os que pretendem coerência, consequentemente, sofrem da desconfiança provocada no eleitor pelos antigos, temerosos, não sem razão, de que estejam apenas assistindo mais uma vez a construção das mesmas falências e falácias.

Sem condições de fugir da sensação de tédio, o melhor seria brincar de novo com as palavras. A moda do momento é descrever a volta caricaturada de antigas obsolências com o prefixo “pós”. Podemos então dizer que o pós-treinador Dunga convocou uma pós-seleção para jogar um futebol pós-moderno. Depois disso, acompanharemos uma pós-eleição para escolher um pós-presidente dentro de uma pós-democracia.

Tudo isso, apenas para demonstrar que não antevemos soluções, nem políticas nem semânticas.



Feira de Santana, 28 de maio de 2010.


*Marcos Monteiro é assessor de pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA. Também é coordenador do Portal da Vida e faz parte das diretorias do Centro de Ética Social Martin Luther King e da Fraternidade Teológica Latino-Americana do Brasil

CEPESC – Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br

Fone: (71) 3266-0055. Veja esse texto também no blog www.informativo-portal.blogspot.com

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